Roberto Raviola, também conhecido como Magnus, é um dos autores mais reconhecidos, imitados e prolíficos dos quadrinhos italianos. Magnus explorou diferentes gêneros durante a sua carreira de trinta anos, consolidando o seu papel como um artista de extraordinária capacidade narrativa. Também sempre preservou a personalidade do seu traço, ricamente definido, transformando seus personagens em verdadeiros ícones da ficção.
A série Necron reflete toda a riqueza criativa do autor. Nas aventuras da cientista necrófila Dra. Frieda Broher e de sua criatura, você não consegue definir que gênero de quadrinhos está lendo. Não se trata de um mero quadrinho erótico, nem tão pouco de horror. Apenas uma de suas muitas investidas na narrativa noir, mas você também não pode optar, unicamente, por esse gênero.
Magnus trabalhou com a roteirista Ilaria Volpe - pseudônimo de Mirka Martini - para criar densas nuances e contos narrativos caracterizados por uma leitura suave e rápida. Essas características dão ao Necron um componente surreal característico que desmistifica a ideia de se resumir em apenas um horror erótico.
A personagem dra. Broher é incapaz de sentir qualquer tipo de emoção quando na presença de seres vivos. A satisfação da doutora se restringe aos membros frios dos cadáveres. Para suprir tal necessidade, ela cria seu próprio amante "morto": Necron. Tal criatura é um ser superdotado, construído com as melhores partes dos corpos roubados do laboratório no qual traballha. No melhor do estilho de Frankenstein, de Mary Shelley, o ser criado torna-se escravo (incluse sexual) de sua criadora.
Necron pode ser visto como uma fantasia erótica abastecida de referências literárias. O cenário do enredo se desenrola em um contexto sócio-político de uma Berlim ainda dividida pelo muro. Não se pode esquecer de destacar a atmosférica de horror dos desenhos animados oitentistas. As características sexuais da criatura a intenção de promover a ironia e o "politicamente incorreto" dessa série de Magnus.
O trabalho do cartunista destaca as multidões, assim como a psicose de uma figura como a Frieda, capturando a atenção do leitor através de uma temática vista, até hoje, como tabu: a sexualidade.
O traço do desenho do Magnus é a síntese de formas que se voltam para a tendência caricatural fundida com vinhetas atentas aos detalhes, silhuetas e espaços desertos de branco. O design único do artista é feito com o inteligente uso do marcador, escolha essa que realça a loucura, o absurdo, o teatro de horrores. O toque divertido fica por conta do componente surreal dos personagens.
O volume 01 da série Necron já está disponível no link: http://bit.ly/necron-tai-editora. A edição traz, em 120 páginas, a primeira história da dra. Broher e do Necron: "A Fabricante de Monstros", pela primeira vez no Brasil em seu formato original. A decisão de publicar no formato original (dois quadros por página) permitirá ao leitor admirar mais profundamente as sequências de diversão grotesca associada ao erotismo apaixonado de Magnus.
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